sábado, 15 de agosto de 2009

Onde é mesmo que fica o Brasil?


Texto de Flávio Aguiar


Depois que os portugueses chegaram ao futuro Brasil, formaram-se duas visões complementares sobre a nova terra. Algumas descrições cobriam a “nova” terra com sinais paradisíacos, a partir mesmo da própria carta redigida por Pero Vaz de Caminha ao rei D. Manuel. O clima ameno, as populações nativas num estado semelhante ao que Adão e Eva deveriam estar ao sair do Éden bíblico, as frutas suculentas e estranhas para os europeus, entre muita outra coisa, por exemplo. Tudo isso foi estudado no notável “Visão paraíso. Os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil”, de Sérgio Buarque de Hollanda.



Por outro lado, motivos infernais também passaram a “povoar” a nova terra: seus jaguares, suas jibóias e sucuris gigantescas, o fumo por parte dos nativos, sua “indolência” na descrição dos europeus, tudo isso eram “coisas do demônio”. Também a situação social entrou nessa classificação, consagrando e criando a dicotomia. André João Antonil (pseudônimo do padre toscano João Antonio Andreoni) escreveu em seu livro “Cultura e opulência do Brasil por suas Drogas e Minas” que nossa terra era “o inferno dos negros, o purgatório dos brancos e o paraíso dos mulatos e das mulatas”. Na verdade, o que Antonil apontava era a formação de uma nova população mestiça em todas as classes sociais, mais afeita às coisas da terra do que os europeus recém-chegados (que tinham a idéia de voltar à sua terra de origem) e do que os africanos escravizados ou seus descendentes. Mas a dicotomia pegou: Brasil, paraíso e inferno simultaneamente. Até mesmo porque na cosmogonia medieval (ainda viva nos tempos coloniais e até hoje, aqui e ali) a saída do inferno ficava no sopé do monte do paraíso terreal.


Hoje, ressalvadas as proporções, tem-se a mesma impressão sobre o Brasil, lendo-se a mídia convencional estrangeira ou a nossa, nacional. Para aquela, se não estamos no melhor dos mundos, estamos fora do pior deles, pois o Brasil é um dos únicos países em que a pobreza está diminuindo ao invés de aumentar, e apesar das fragilidades e distâncias sociais continuarem de monta. Digamos que na imprensa internacional o Brasil é descrito como atravessando um ciclo virtuoso, com a melhora da situação social fortalecendo a democracia e vice-versa. Não que não haja problemas referidos, é óbvio. Mas a moldura é aquela. E isso vale para jornais e publicações que vão da centro-direita à centro-esquerda (para usar uma classificação vigente nas próprias publicações européias, pelo menos).


Ver mais em:



Nenhum comentário: