quarta-feira, 6 de abril de 2011

UNIDADES DA AGRICULTURA FAMILIAR SÃO MAIS PRODUTIVAS QUE GRANDES IMÓVEIS RURAIS




Pesquisa da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) conclui que pequenas propriedades rurais com até 200 hectares são mais produtivas que as grandes fazendas. A eficiência da pequena propriedade também foi constatada no melhor rendimento dos recursos recebidos, como financiamentos e créditos. Para pesquisadora, os assentamentos da reforma agrária também acompanham a tendência de produtividade da agricultura familiar.

A pesquisa foi coordenada por Rosemeire Aparecida de Almeida, professora pós-graduação em Geografia, do campus de Três Lagoas (MS). Os dados foram colhidos entre 2008 e 2010, com o objetivo de contribuir com a implementação de políticas públicas voltadas à agricultura familiar camponesa.

O estudo teve como foco a análise das transformações no uso e posse da terra no último período censitário (2006), feita pelo IBGE, a partir de duas escalas. A primeira refere-se aos estados do Mato Grosso do Sul e Paraná em si. A segunda é a análise comparativa entre esses estados e também de amostras regionais (região Leste de Mato Grosso do Sul e Norte Central paranaense). A professora conduziu a pesquisa com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento de Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado do Mato Grosso do Sul (Fundect/MS).

PEQUENA PROPRIEDADE MAIS EFICIENTE

No trabalho, Rosemeire detectou os benefícios de um modelo econômico baseado na pequena propriedade. Identificou ainda que, em termos econômicos, a maior vantagem da pequena unidade de produção é a eficiência em relação à grande unidade agrícola. "Outra vantagem desse tipo de modelo é a capacidade de geração de emprego e renda, o que reduz a miséria e a marginalidade, além da agressão ambiental" afirma.

Ainda sobre a pequena unidade de produção, a pesquisadora aponta que os estabelecimentos com até 50 hectares, segundo dados do Censo de 2006, multiplicaram por aproximadamente dez vezes o montante que lhes foi concedido em crédito. Segundo a pesquisadora, esses estabelecimentos receberam um total de R$ 46,6 milhões e responderam com retorno de R$ 434.4 milhões em valor de produção agropecuária. Já os estabelecimentos com mais de mil hectares foram nove vezes menos eficientes, já que obtiveram R$ 1.472.448 em financiamentos e corresponderam com a produção bruta de R$ 1.826.344.

EFICIÊNCIA DA REFORMA AGRÁRIA

De acordo com a pesquisadora, os resultados obtidos com o estudo podem ser relacionados aos assentamentos da reforma agrária e indicar a eficiência dela. Para exemplificar, a professora ressalta alguns dados que comprovam a afirmação. Segundo ela, a pequena unidade de produção rural (até 200 hectares) em Mato Grosso do Sul teve um aumento na produção de leite de 41% em relação ao Censo 1995/96, enquanto a média e a grande unidade reduziram sua produção.

Esse aumento na produção se comprovou nas classes de área de menos de 50 hectares, que juntas tiveram um aumento de 93,49% em relação ao Censo 1995/96 e que representam, em grande medida, o tamanho das parcelas dos lotes da reforma agrária. "Esta classe de área, que detém 2,09% da área total, produz sozinha 46,48% do leite no estado, o que nos autoriza a afirmar que a pequena unidade, com diminuta fração de terra, conseguiu melhorar significativamente a produção agropecuária brasileira" conclui.

PESQUISA NOS ASSENTAMENTOS

Em dezembro de 2010 o Incra divulgou os resultados da pesquisa Qualidade de Vida, Produção e Renda nos Assentamentos de Reforma Agrária do Brasil, que trouxe dados sobre educação, infraestrutura, habitação, condições de produção, organização e financiamento para os assentados da reforma agrária.

A pesquisa revelou a opinião dos assentados em relação às condições de vida deles antes e depois de se tornarem beneficiários da reforma agrária. O levantamento de dados, feito ao longo de 2010, baseou-se na aplicação de um questionário submetido a 16 mil famílias assentadas por todo o território nacional.

Os assentados que participaram da pesquisa avaliaram de forma positiva as condições gerais de vida após o acesso a terra, por meio da reforma agrária. Em relação à moradia, pelo menos 73% dos assentados garantem que houve melhora significativa sobre a condição anterior.

Outros itens também receberam ampla aprovação por parte dos assentados, como melhora na alimentação, para 64,86%; educação, com avaliação de 63,29% e renda, cujo aumento foi relatado por quase 64% dos assentados.
 

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